sábado, 5 de agosto de 2017

Mesmo que fujamos, é inegável a percepção da morte como única certeza e medo compartilhado por todos nós, em algum momento da vida. E eu, acredite se quiser, perdi o que me restava do medo, quando vi a forma como o Senhor recolheu minha mãe – sua filha, guardando-a no secreto até que sua palavra seja cumprida e sejamos levados de volta para casa, nossa pátria celestial.  Amanhã ela completaria 76 anos. Caminho, dia após dia, para o cumprimento do ciclo de dois meses da sua morte, mas essas “mal traçadas linhas” não serviram para falar simplesmente da dor e do luto desses dias.
 “O homem nascido de mulher tem vida curta e passa por muitos desapontamentos e dificuldades. É como flor que se abre vigorosa, mas logo murcha, seca e vai-se como a sombra que passa, não dura por muito tempo.”
Jó 14: 1-2

Nossos anseios de eternidade esbarram-se na temporalidade limitada da vida terrena. Não aprendemos na prática cotidiana que o momento de amar e receber amor, está no aqui e agora. Prendemo-nos em razões que suprimem nossa capacidade de agarrar o que é insubstituível, enquanto gastamos preciosas porções do nosso tempo com vaidades pertencentes aos tesouros que voluntariamente acumulamos na Terra, e que todos os dias são consumidos por traças e ferrugens (Mateus 6: 19). O amor, de mãe e de todos aqueles que partem, não vai com eles... Suas sementes, plantadas nos momentos que se transformam em memórias, crescem e geram frutos ao passo em que aceitamos o luto, mas o vivemos com gratidão e saudade; buscando e recebendo o consolo real do Espírito Santo. 


Eu bem sei que não é fácil. Em muitas gargantas o “porque Senhor”, fica retido por medo ou sai como um doloroso vômito da alma, ferida pela perda e inconsolável pela falta de compreensão dos desígnios do Pai. A morte em si traz uma série de questionamentos, mas se ela estiver embalada por assuntos mal resolvidos, o luto transforma-se em um fardo insuperável para muitas pessoas. O segredo está em como levamos a vida, com as pessoas que amamos. Não existe uma tecla que magicamente desfaz a dor. Ela é transformada em saudade pelas memórias dos momentos vividos de verdade, aqueles pequenos gestos que confirmam a simplicidade do amar e ser amado.

Dias antes da partida da minha mãe, a simples metade derretida de um sorvete entregue a ela como um “lembrei de você, enquanto estava fora” foi o suficiente para gerar em sua face um sorriso de satisfação e felicidade genuína.  A preocupação por sua demora de chegar em casa, vivida num outro momento, provocou nela a reflexão exposta pela frase “não sabia que você me amava tanto assim”. Essas e outras pequenas lembranças, associadas a um sonho  que o Senhor me deu no dia de sua morte, me fazem costurar emocionalmente uma colcha de memórias que me dizem: mesmo não fazendo tudo o que e como ela merecia, lhe ofereci as melhores flores do meu jardim emocional, enquanto ela estava viva. 
“Eu já não alcanço o passado
Meus limites reconheci
O hoje é tudo o que tenho, isso entendi
Preciso trazer à memória historias que desprezei
Não posso me esquecer, venho te oferecer
Flores em vida
Enquanto é dia ”
Flores em vida – Paulo César Baruk

Não importa idade, raça, cor, religião, preferências políticas e sexuais: a morte é uma lei inevitável para todo ser humano. Faça a vida valer à pena, enquanto sentir os batimentos cardíacos que mantêm sua alma e espírito em seu corpo físico. Agora é o exato segundo para amar mais, ofertar colo e ombro amigo, falar palavras de conforto, estar presente na dor e celebrar as alegrias, silenciar consigo mesmo e saborear a vida como um algodão doce que não perde o sabor, enquanto derrete na boca. Sou grata ao Senhor por ter conseguido aproveitar minha oportunidade, nos últimos seis anos de vida que compartilhamos juntas, pois sei que esse esforço mútuo está me ajudando a viver a dor, envolta pela paz que vai além de todo e qualquer entendimento. Pessoas curam pessoas, pois são instrumentos do amor de Deus. Escolha amar antes da dor e receber amor e zelo dos familiares, amigos e irmãos em Cristo, depois de sua chegada: eis o movimento continuo que transforma o luto em saudade.

Beijos e Queijos,


Gratidão ao Guilherme Bandeira, pela liberação do uso de seus cartoons nos meus "Rabiscos de Sábado: Razão x Emoção". Conheça mais deste  trabalho em  https://www.facebook.com/objetosinanimadoscartoon/.

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