Eu era o cara. Muitas curtidas no FB, seguidores no instagram, o requisitado do Whatsapp. As meninas piravam em mim. Cá entre nós, eu sempre fui o mais bombado e ninguém parava diante da minha força. Nunca precisei de espinafre ou Deca Durabolin. Meus pais diziam que isso era coisa de Deus, que quando minha mãe ainda estava grávida eu havia sido escolhido para libertar meu povo. Até que eu tava curtindo essa de ser líder, mas na minha idade o que eu curtia mesmo eram aquelas gatas que me cercavam. Como resistir? Cada mulher, meu irmão! Aí e me apaixonei por uma delas assim que a vi, tipo aquele lance de amor à primeira vista. Meus pais não queriam que a gente casasse porque ela não era do meu povo, mas qual é? Era dela que eu gostava. No casório fiz um enigma a partir de um segredo meu q ninguém sabia. Queria tirar onda com os caras e lucrar em cima deles. O que eu não contava é que eles iam ameaçar minha noiva pra ela descobrir o segredo. De tanto que ela fez drama, contei pra ela e a mina deu com a língua nos dentes, mas eu me vinguei dos caras. Perdi a mulher pro meu amigo, nem vou contar os detalhes.

Superei. Conheci outra gata em Soreque, tipo mulherão, top, capa de revista. Fiquei fissurado nela. Só que ela começou a me torrar pra contar o meu maior segredo, minha força. Não ia entregar de bandeja né, neguinho? Inventei uma história de me amarrar com tiras de couro, não é que ela fez isso quando eu tava dormindo? Quando ela me acordou dizendo que meus inimigos vinham me atacar as cordas de couro eram pra mim como linha queimada, kkkkk... Só que a mina insistiu, inventei outras histórias, deu em nada. Aí a mulher começou a fazer drama pra eu contar. Me enchia todo dia com esse papo. Até que um dia eu não aguentei e contei o segredo: meu cabelo nunca tinha sido cortado. 

Foi o que ela fez. Vendida aos meus inimigos, ela me entregou. Eu achei que estava forte como antes, mas não percebi que a minha força, o Espírito Santo tinha saído de mim. Só percebi isso quando eles me furaram os olhos, literalmente. Fui envergonhado, me tornaram escravo. Foi aí que comecei a enxergar. Minhas duas mulheres me entregaram aos meus inimigos. A última, mais de uma vez, só que ainda assim eu não caía em mim. Eu tinha olhos mas não via. Estava enceguerado por meu próprio desejo, só queria saber do prazer, de mais nada. Meus olhos me atraíram para o pecado, então o pecado me cegou.

Relato de qualquer Sansão contemporâneo